segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Lembranças do nosso corpo


Esqueleto, músculos, articulações, coração e vasos sanguíneos, pulmões, rins, estômago. Olhos, olfato, ouvido, paladar. Pele e dentes. Nervos e cérebro. Glândulas e sistema linfático. Esses são alguns dos principais elementos de nosso organismo.

Mas nosso corpo não é formado apenas por tecidos e órgãos. De acordo com alguns especialistas em remédios alternativos, também tem sua própria memória, que pode ser tanto ou mais reveladora e poderosa que a de nosso cérebro, embora suas lembranças se manifestem de forma mais sutil. .

"O corpo é o lugar onde se 'carrega' tudo, e onde se mantém uma 'memória celular' de tudo o que a pessoa vivenciou e experimentou ao longo de sua existência", disse a especialista Mila Comín, psicoterapeuta transpessoal e especialista em dinâmicas
corporais. .

"Por exemplo, alguém que sofreu um estupro ou agressão processa e registra essa experiência tanto em sua mente quanto em seu corpo. Em consequência, toda vez que percebe algo que lhe evoque esse episódio traumático ou o agressor (um tipo de roupa, um traço facial, um lugar, um barulho, um cheiro, uma comida) seu corpo fica tenso ou contrai", afirma a especialista. .

"Se em algum momento alguém detecta que recua diante de determinada situação, lugar, atividade ou pessoa, ou que os evita porque os teme, causam mal-estar ou sente o impulso de fugir, é preciso parar um momento, tornar-se consciente do problema e colocar algumas dúvidas", acrescenta Mila. .

É saudável manter esta memória corporal? É possível ser uma pessoa verdadeiramente livre para escolher o parceiro, trabalho ou forma de vida se alguém se encontra condicionado por uma memória corporal traumática? Essas são algumas perguntas-chave, segundo a especialista. .

"Outra dúvida reveladora pode ser: sou livre para escolher se me assusto ao ver algo que me lembra um velho trauma 'memorizado' em meu corpo, se evito certos lugares ou situações ou deixo de fazer determinadas coisas que evocam tal fato? Obviamente, a resposta é não. O passo seguinte é se libertar dessa amarra através de algum tipo de tratamento", afirma Mila. .

Segundo a psicóloga clínica e terapeuta Alicia López Blanco, autora do livro "El Cuerpo Tiene la Palabra" (O Corpo Tem a Palavra, em tradução livre), o corpo não só tem memória, mas também inteligência e capacidade de se comunicar em sua própria linguagem. .

"Fala de nós mesmos, reflete nossa personalidade, emoções e estado de saúde, e qualquer alteração de nosso equilíbrio interno aparece em nossa imagem exterior", diz.Contraturas no pescoço, costas e cintura, problemas digestivos, desordens hormonais, problemas respiratórios. Segundo a especialista, estes são alguns dos transtornos mais frequentes que nos dizem que algo não vai bem em nosso mundo psicoemocional. "Mensagens que podemos aprender a ler e entender, para corrigir o problema sobre que avisam", acrescenta. .

"Se aprendermos a ler e interpretar as mensagens que nosso organismo nos envia continuamente, servirá de ajuda para ter uma vida mais saudável e satisfatória, e facilitar nosso desenvolvimento pessoal", explica Alicia. .

Segundo a psicóloga, podemos utilizar essas mensagens para nos conhecer mais e como guia para a realização de determinadas ações. Diante da mensagem clara de um transtorno, é preciso tentar entendê-lo e realizar as mudanças necessárias para recuperar a saúde. .

Como exemplo, a especialista diz que "uma contratura na zona do pescoço é um sintoma que reivindica, entre outros, mudanças na quantidade e qualidade de controle que a pessoa exerce sobre si mesma e aos outros". .

O primeiro passo para resolver isso seria tomar consciência do problema e identificar as formas nas quais exerce esse excesso de controle. Em segundo termo, é possível desenvolver estratégias para mudar essa conduta e, por último, colocá-las em prática, porque, assim, "a mensagem perde sentido e o corpo não precisa mais emiti-lo", segundo a especialista. .

Outro caso frequente registrado na memória corporal, segundo Mila, é o daquelas pessoas que sofreram um acidente de trânsito e ficam tensas ao passar por um lugar parecido de carro, o que, paradoxalmente, pode levá-las a protagonizar outro acidente, devido ao descontrole. .

"Também há os que deixam de comer algo porque o pai se irritava quando comiam, quando crianças, e agora sentem essa sensação de tensão perante o produto", diz Mila.Segundo as especialistas, todas essas são pessoas que sofrem limitações em sua liberdade de escolha e nas possibilidades de levar uma vida plena.

Da pele ao núcleo do ser.

"Nosso corpo tem sua própria memória e registra vivências que, às vezes, nossa mente consciente não capta. Lembra, revive, fala, sente", diz Mila. .

Segundo a especialista, "nosso corpo sabe, às vezes, melhor do que nossa cabeça o que de verdade nos mobiliza ou nos freia, de que precisamos ou o que nos sobra, o que nos expande ou recua, aquilo que nos captura ou nos liberta. Leva-nos à verdade, com uma sabedoria livre dos artifícios, miragens, tergiversações, autoenganos ou manipulações da mente", acrescenta. .

Para estas especialistas, o corpo conecta com o mais verdadeiro, profundo e sagrado que há em nós, nos conduz ao núcleo de nosso ser e, se nos deixarmos levar pelo que nos diz, pode levar a uma dimensão de revelações insuspeitadas. .

Mas, segundo Mila, é preciso aprender a atendê-lo e entendê-lo, porque "sua linguagem é diferente à das emoções (alegria, tristeza, amor) e também difere à das ideias e pensamentos". .

Segundo a psicoterapeuta, "sua mensagem nos chega em forma de sensações: frio, calor, rigidez, comodidade, incômodo, inquietação, movimento, opressão, alívio, tensão, relaxamento, estremecimentos, calafrios. Também através de ondas de sentimentos, revelações intuitivas, compreensões instantâneas, lembranças cheias de significado, experiências de atração ou rejeição, sossego ou intranqüilidade". .

"A cabeça, pescoço, ombros, assim como as regiões do peito e do abdômen, são especialmente sensíveis a suas expressões", diz a especialista em dinâmicas corporais. .

Para "falar" com nosso corpo, Mila indica que "temos diferentes caminhos para se comunicar com ele e entender o que expressa. Para explorá-los, é preciso se sentar em um lugar confortável, fechar os olhos e manter uma respiração lenta e profunda, sentir o ar entrando e saindo dos pulmões, e peito e estômago se expandem e contraem". .

"Se permanecermos relaxados e atentos durante alguns minutos, enquanto respiramos lenta e profundamente, seremos capazes de captar o que nos pede o corpo, assim como suas queixas e necessidades. Intuitivamente, saberemos interpretar suas mensagens, que afloram de forma espontânea", garante a especialista.

Por María Jesús Ribas.
EFE-REPORTAGENS.

Fonte: http://br.noticias.yahoo.com/s/31082009/48/saude-lembrancas-nosso-corpo.html

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