sábado, 23 de fevereiro de 2008

Um contraponto e algumas coisas mais...


Como um homem previnido vale por dois, então posto aqui também um contraponto extraído de Planeta na Web. Aqui o estudioso Wellington Zangari, que se propõe a estudar os fenômenos paranormais por uma ótica científica acadêmica, responde entrevista contando um pouco de sua experiência. Além de fazer algumas críticas metodológicas e nos alertar do sempre presente risco de fraude, ele nos dá o seu parecer relatando-nos que de fato tais experiências paranormais, apesar de raras, existem sim (o que, segundo ele, não chega a confirmar um mundo sobrenatural) e também conta um pouco sobre a história de Freud com esse tema - e dos textos escritos pelo pai da psicanálise sobre esses assuntos.

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PnW - Você afirma que esses fenômenos paranormais existem mesmo?

Wellington – Experiência é algo diferente de fenômeno. Experiência é aquilo que a pessoa narra ter vivido. A ciência simplesmente ouve, descreve, anota, registra e vai procurar algum tipo de investigação. A gente não pode negar a experiência, mas nem sempre o fenômeno por trás da experiência existe. Pode ser um truque. O que me interessa é saber o que o médium tem do ponto de vista psíquico. Se ele tem alguma coisa específica e diferente dos não-médiuns. Eles entram em transe, rodam e não ficam tontos, bebem álcool e não parecem estar bêbados, parecem ter uma insensibilidade a dor. Isso nos faz acreditar que eles podem ter algum tipo de funcionamento psicológico um pouco diferente das pessoas que não são médiuns, independentemente da existência ou não das divindades. A ciência ainda não tem meios de avaliar se existe um mundo sobrenatural. A única coisa que nos cabe é avaliar as pessoas que dizem ter contato, que dizem prever o futuro ou movimentar objetos.

PnW - Vocês acreditam que esses fenômenos poderão um dia ser explicados?

Fátima – Existem coisas que são inexplicadas, mas não são necessariamente inexplicáveis. O eclipse, por exemplo, é um fenômeno natural, mas durante muito tempo foi interpretado como sobrenatural, motivado pela ira dos deuses. Com o desenvolvimento da astronomia, você vê que o eclipse é um fenômeno natural que ocorre de tempos em tempos. Não é porque eu ainda não tenho resposta nem instrumental para decidir que eu vou concluir que o fenômeno é sobrenatural. Esses fenômenos com os quais nós lidamos estão em uma zona fronteiriça, não têm ainda uma teoria científica para interpretá-los. É como o Einsten, que teve que criar toda uma nova teoria para explicar o fenômeno que ele descobriu. Estatisticamente os fenômenos paranormais existem. E isso significa que quando as pessoas dizem ter passado por experiências de previsão de futuro ou de movimento de objetos, essas pessoas não estão necessariamente mentido ou estão iludidas. O ser humano não está afastado de seu ambiente. Apesar do cartesianismo ter demonstrado que nós somos separados do mundo físico, experimentos demonstram que nós não estamos separados uns dos outros, nem estamos separados do ambiente. Podemos interferir no ambiente e receber informações sem usar os nossos sentidos conhecidos.



PnW - Além do Jung, mais familiarizado e aberto a este tipo de fenômeno, o próprio Freud escreveu artigos sobre isso, não é?

Wellinton – Ele teve experiências com os pacientes, mas foi impedido de publicar por seu discípulo e biógrafo, Ernest Jones, que argumentou que ele já não era bem visto socialmente por falar sobre sexualidade e por ser judeu, então era melhor ele não publicar sobre isso. Mas ele acabou publicando em vida dois textos, “Sonhos e Ocultismo” e “Psicanálise e Telepatia”, em que ele aborda estas questões, não deixando bem clara a sua posição. Ele inclusive tinha a teoria de que a telepatia era o meio de comunicação dos homens primitivos, mas que foi atrofiando por causa do desenvolvimento da comunicação verbal. Na biografia mais recente dele, escrita por Peter Fry, está descrito que Freud fazia experimentos telepáticos com sua filha, Anna, e seu discípulo Ferencze.

PnW – O que vocês acham da projeciologia?

Wellington - Conhecemos muitas pessoas que dizem terem tido experiências fora do corpo. Existem pesquisas que são realizadas em todo mundo em várias universidades. O que esses pesquisadores têm afirmado é que a experiência de fato existe. As pessoas de fato se sentem fora do corpo. Isso é diferente de poder se afirmar que elas de fato saem do corpo. Essas interpretações científicas dadas por essas pessoas estão muito próximas das interpretações dadas aos chamados sonhos lúcidos. Muitas pessoas conseguem controlar os próprios sonhos lúcidos.

PnW - Wagner Borges (o criador da projeciologia) afirma que a diferença entre sonho lúcido e projeção é que na projeção as pessoas interagem conscientemente e vêem coisas que fazem sentido...

Wellington – Sim, mas isso é característica do próprio sonho lúcido. Inclusive do próprio sonho vívido. Existe o sonho lúcido e vívido que você pode de fato interagir ou ter um certo tipo de controle. Você tem consciência e, portanto, age, testa, interage com os elementos, sejam elementos considerados vivos ou inanimados. O que a gente pode fazer é de fato convidar essas pessoas, por intermédio da Planeta, a um experimento muito simples. A gente pode colocar na redação um cofre fechado, com algumas coisas lá dentro para que as pessoas que saem do corpo se dirijam até o cofre e verifiquem o que tem ali. Se as pessoas toparem, a gente pode fazer o controle dessas experiências. Todos os livros escritos por projeciologistas famosos como Valdo Vieira não podem ser considerados científicos de modo algum, porque não respeitam a metodologia científica. Eles se baseiam única e exclusivamente na descrição da experiência da pessoa. Isso não significa negar a experiência, isso significa negar as conclusões as quais os projeciologistas chegam.

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PnW - E quanto à pesquisa dos transcomunicadores?

Wellington - A metodologia que eles dizem ser científica, de maneira alguma é científica. Nós estivemos com a Sonia Rinaldi mais de uma vez, inclusive no laboratório na casa dela, fizemos lá uma simulação de experimento que não teve nenhum resultado. Pedi para o meu irmão falecido dizer o nome dele e veio um nome que não tinha nada a ver. Nós também estivemos em uma outra apresentação grande, com um grupo de transcomunicadores, e onde nós pudemos identificar uma série de erros metodológicos, que geraram o artigo “Recomendações metodológicas aos transcomunicadores” que será publicado em Portugal ainda esse ano.

PnW - Qual é o principal problema das experiências deles?

Wellington - A psicologia conhece um fenômeno chamado de projeção. É como ver carneirinhos nas nuvens. Quando você olha para um campo indefinido, você, até por uma função neurológica, tende a organizar aquele campo e descobrir algum coisa com sentido ali, seja no nível visual ou sonoro. Não é à toa que os comunicadores atuam nessas duas direções, no campo visual e no campo sonoro, sempre com elementos muito misturados. Então você tem um campo visual muito incerto, uma série de possibilidades, e eles descobrem ali um sentido. Esse é um erro grave, porque se a coisa fosse identificável por qualquer comunicador da mesma forma, tudo bem, seria um passo adiante. Mas quando a gente esteve lá, os próprios transcomunicadores diferiam em relação à interpretação daquele som, então aparecia determinado som que era interpretado pela Sonia Rinaldi como “eu amo você mamãe”, e a outra pessoa dizia, “eu não ouvi isso, você ouviu? Eu ouvi tal coisa...”. Então a gente não está dizendo que isso não seja verdadeiro, que de fato os espíritos não se comuniquem. O que a gente está dizendo é que o método empregado para avaliar isso não é científico.

Fátima – Quando ela ou as outras pessoas apresentam gravações que trouxeram de casa, você até tem qualidades melhores de som. Uma frase que você realmente ouve aquilo. Mas a ciência é muito desconfiada. Você tem que ter controle. Como é que você vai me garantir que aquilo não foi gravado? Até pode mandar a fita e fazer um teste de voz para ver se era a voz do falecido, mas quem garante que você já não tinha em casa uma fita com a voz dele. Tudo bem, é a voz dele, mas de onde ela veio, de lá mesmo, ou daqui? Aquele senhor que faleceu, que deixou a voz gravada no celular da ex-mulher, também era transcomunicador e eles tinham várias fitas com a voz dele. Não é que eu estou acusando esta senhora de fraude, mas em ciência, você não pode lidar só com o testemunho, porque ele é falho, nem só no experimentador você pode confiar. Você tem que ter controle do próprio experimentador, tem que ter o que a gente chama de juíz cego, por não estar diretamente envolvido com os experimentos. A nossa percepção é falha. Eu posso até ser muito honesta, mas eu posso falhar também na minha observação e na minha percepção.

PnW - Mas porque um grupo desses se reuniria para fazer uma fraude? Qual é o diagnóstico que vocês fazem?

Wellington – Temos que pensar na psicologia humana. O ser humano não aceita a finitude da vida. Isso significa que nós tendemos a esperar e apostar em uma vida após a morte. E cada um de nós tem as suas crenças em torno disso. As pessoas que não têm essas crenças vivem com uma angústia do desconhecido e nem sempre essa angústia é suportável.

Fátima – Nem sempre elas conscientemente fraudam. Pode ser inconscientemente.

PnW - Não é necessariamente uma ma-fé?

Wellington – Não, de forma alguma. Eu não acredito que seja má-fé em 90% das vezes, mas existem casos notórios de pessoas que fraudam ou por vaidade ou por dinheiro. Tem, por exemplo, o Thomas Green Morton, que é um farsante, é um mágico, é um charlatão. Nós somos mágicos, então nós sabemos quando o sujeito é mágico.

PnW - Das pessoas que os procuram, quantas de fato experienciam fenômenos paranormais?

Wellington – 70% dessas pessoas são farsantes. Dos 30% restantes, 10% tinham problemas psicológicos ou neurológicos, como uma mulher que disse que recebia mensagens obscenas enviadas por um computador direto para a sua mente. Outras 15% eram erros de interpretação, pois havia influências ambientais, como um senhor de 80 anos, que nos procurou dizendo que a casa onde ele vivia era mal-assombrada porque as lâmpadas e canos estouravam. Na realidade a casa tinha mais de 100 anos e estava com problemas de fiação e de encanamentos. Só 5% das pessoas que nos procuraram vivenciaram fenômenos que não se enquadravam em nenhum desses casos.

PnW - Qual foi o caso que mais te impressionou?

Wellington - Certa vez eu fui chamado por uma família porque diversos fenômenos estranhos aconteciam na casa. Pedras apareciam na casa, copos quebravam, crucifixos voavam, ruídos estranhos eram ouvidos, vultos eram vistos. E eles queriam parar com isso. Já tinham tentado de tudo. Foram a centros espíritas, de umbanda, padres e nada conseguia acabar com os fenômenos. Eles me procuraram como última solução e eu fiquei morando uma semana na casa. Não aconteceu nada e no último dia, quando eu estava tomando café com toda a família, me despedindo e explicando que eu já não tinha mais nada para fazer ali, a tampa do bule de café começou a rodar e de repente pulou para o teto e caiu na mesa. Todo mundo se assustou. Depois eu escutei um barulho na sala e vi a lata de cerveja usada como cofrinho rodando muito distante do local onde ela costumava ficar. Então eu fiquei mais alguns dias e diagnostiquei o que estava acontecendo. O filho de 12 anos era quem manifestava esses fenômenos. Ele ouvia vozes dizendo que ele tinha que ficar em casa, assistindo televisão, e se os pais insistissem que ele tinha que ir para a escola, escovar os dentes e comer direito, as coisas aconteciam. Então meu trabalho foi de psicoterapia familiar convencional, colocando cada um dos membros da família em seu devido papel. O menino inconscientemente estava pedindo limites para os pais, e encontrou uma brecha para manipular a família toda, que não por acaso era espírita. Há inúmeras variáveis presentes nesse quebra-cabeça: a personalidade, a situação social, cultural, os valores, crenças, o ambiente. Claro que o menino tem habilidades anômalas. Mas ele não fazia esses fenômenos acontecerem por vontade consciente e sim por causa do desejo inconsciente dele.

Fonte:



2 comentários:

Anônimo disse...

A consciência faz parte da alma, assim como o sentimento, segundo a minha percepção e o pensamento é apenas um instrumento que a alma tem para se comunicar com o mundo. Sem ele, assim como sem os sentidos físicos, ela jamais poderia atuar no universo material.

Marcel Cervantes de Oliveira disse...

Concordo plenamente com suas palavras, caro Rick.

Um forte abraço!